sábado, 2 de outubro de 2010

Coração em desalinho.


      Era sexta-feira, o final de semana tinha chegado esperançosamente. Aproveitei e saí de casa para descontrair um pouco com os amigos em um ambiente, um bar, onde poderíamos colocar o papo em dia. Num dado momento, percebi que alguém olhava em minha direção e eu não havia prestado atenção quem seria, ou talvez estivesse olhando para alguém ao meu lado. Encabulei-me, mesmo que tivesse ou não olhado para mim. Tempos depois, me levantei para ir ao bar pedir algo ao garçom e, antes de fazer o pedido, você interveio. Parecia ler os meus pensamentos pois fez o mesmo pedido; e com um simples cumprimento me olhou e disse um oi. Estranhei aquilo, mas correspondi com um sorriso. Fiquei pensando, lembrando se o conhecia de algum lugar, devido a forma pela qual tinha me cumprimentado. Talvez fosse umas das pessoas que já estiveram entre os amigos numa conversa boa em algum momento.
      Em outros momentos, saí com os amigos na velha rotina, onde encontrava algumas vezes ali próximo à mesa, no mesmo lugar de sempre. Parecia coisa do destino. Ou você sempre esteve ali e eu nunca percebi a sua presença. No salão de eventos e nos ambientes reservados tinha de encontrar algumas vezes com amigos, os encontros eram os mesmo e nada de cumprimentos, os olhares pareciam estar desconfiados de algo ou coisa que dizia à meu respeito. Não sei.
      Um dia acessando à internet, entrei num site de relacionamento e fiquei surpreso quando vi o seu convite para fazer parte do meu ciclo de amizades. Surpreso também por se mostrar interessado pela minha pessoa, mal cabia eu saber a razão daquilo.
      E assim, iniciamos alguns contatos. Trocamos e-mails a fim de bater papo para nos comunicarmos melhor. Das poucas vezes em que conversamos, tinha sido por um bom tempo e, na maioria dele, não tinha dado muita atenção ou interesse. Mas, aos poucos, você na simplicidade nas palavras, no dom de conversar, de trocar idéias, tinha mostrado ser uma boa pessoa, de caráter, muito simpática e descontraída.
     Depois das longas conversas, dia após dia, percebi que nunca mais encontrei pelas mesas e os outros lugares daquele estabelecimento. Era estranho aquilo, porque os encontros pareciam rotina. Em alguns momentos não encontrava navegando na internet.
     Algum tempo depois, meses talvez, encontro no bate-papo e logo vou ao seu encontro para saber das novidades, por onde andava durante todo esse tempo e não ter dado sinal de vida. Foi uma conversa longa. Uma das mais estendidas que tivemos. Muito prazerosa, rimos bastante, trocamos ideias. Tudo muito bom.
      Ao longo da conversa, mesmo sem nada para fazer naquele final de semana, me convidou para assistir a um filme em sua casa. Gostei da ideia, logo aceitei. Seria um prazer assistir ao filme com os seus amigos e, principalmente, conhecê-la pessoalmente. Chegando a sua casa, fiquei surpreso por ter sido o único convidado. Imaginei que estivesse convidado os amigos, os parceiros que sempre acompanhava naquele bar. Acanhei-me de jeito do modo que fiquei na primeira vez.
      Conversamos bastante antes de iniciar o filme. Tinha preparado pipoca a fim de assistir ao filme com mais diversão. No decorrer disso, assistimos juntos, um próximo ao outro, no sofá cama na sala. Era prazerosa a companhia como também a casa que era de agradar qualquer um. Mal sabia o que poderia acontecer ali. Sentia uma vontade de chegar mais perto, de abraçar, fazer carinho e sem entender quais as intenções de me ter ali e sozinho.
      Um pouco próximo do término do filme, me estirei um pouco para sentir-me confortável. Você tinha baixado e encostado a cabeça sobre a minha. Foi intenso aquele momento, nos olhamos e olhamos mais. Observava cada detalhe do seu rosto, seus olhos verdes, os lábios carnudos, cabelos ondulados, a pele morena. Enquanto me olhava, aproveitava e acariciava seu rosto macio, aquela pele lisa e delicada. Aos poucos, fomos aproximando e sentindo o coração acelerar cada vez mais. Com os rostos colados e os nossos lábios com água na boca, de querer apreciar aquele momento, momento que vivemos intensamente. Ficamos juntos. Abraçados. Trocando beijos e carinhos iguais às cenas de novela.
      Ensejo maravilhoso que vivi. Aproveitei o momento para saber do seu sumiço, de não ter dado sinal de vida. Ao saber do que se tratava, fiquei sem jeito, embora fosse algo tratando de um sentimento que existia nela. Algo que ninguém poderia mudar, só dependeria dela e, por isso, tinha se afastado de mim. Não queria me ver, se apegar, de gostar e um dia possuir. Então, como me esclareceu, tinha sido uma paixão platônica. Fiquei feliz e, ao mesmo tempo, com receio de culpa em vê-la sofrer de tal forma e não merecer isso.
      Continuamos a nos encontrar e não queria lograr daquele sentimento, nem eu sei explicar o que também estava acontecendo comigo. Deixo-me levar nessa vida, na oportunidade maravilhosa que vivo e entender a razão de estar ali, ou talvez quem sabe se tornaria uma paixão verdadeira.

                                                                   [Claymilen Salustiano.]

2 comentários:

Luan disse...

Ei rapaz sabe onde está mágica da escrita???
Quando escrevemos, escrevemos algo que estamos sentindo ou que vivemos, deixamos transparecer algo que temos dentro de nós mesmos. A mágica está exatamente ai, pois quando outra pessoa ler nossos sentimentos passados para um papel ela tira suas própria conclusões, ela se ver em um texto que é nosso e isso torna tão lindo e intenso. É a coincidência, coincidente ...
PARABÉNS,,, escreve com o coração.

Maria Maria disse...

Meu caro 5,

Você sabe que de todos os números de Eva, é para mim o especial, porque conheço seus textos. Aqui há muito lirismo e um jeito muito próprio de escrever.

Beijos,

Maria